Frente a um espelho embaciado implantaram-me um nome próprio:
A identidade estava oficialmente imposta.
Auscultaram-me a alma e trincaram-me o corpo cru.
Pediram-me um singelo milagre como prova da minha boa-fé
E eu mantive-me sobriamente sem chorar.
Depois deram-me um calendário para todos os anos
E pediram-me que apregoasse o futuro:
- Resta muito tempo para o ano fértil?
Pediram que asfixiasse o perfume de todas as flores
Num só sopro nobre de primavera.
Respirei fundo e quase me sentia vivo.
Ao questionarem-me pela natureza da jarra burguesa,
Na minha luxuriosa mesa de cabeceira,
Comovi-me com os lírios e espilrei demasiadas vezes.
Vestiram-me de todas as cores e expuseram-me ao sol.
A identidade estava oficialmente imposta.
Auscultaram-me a alma e trincaram-me o corpo cru.
Pediram-me um singelo milagre como prova da minha boa-fé
E eu mantive-me sobriamente sem chorar.
Depois deram-me um calendário para todos os anos
E pediram-me que apregoasse o futuro:
- Resta muito tempo para o ano fértil?
Pediram que asfixiasse o perfume de todas as flores
Num só sopro nobre de primavera.
Respirei fundo e quase me sentia vivo.
Ao questionarem-me pela natureza da jarra burguesa,
Na minha luxuriosa mesa de cabeceira,
Comovi-me com os lírios e espilrei demasiadas vezes.
Vestiram-me de todas as cores e expuseram-me ao sol.
Quando venerei um naco de pão duro já me tinham pedido abundância:
Por vergonha não confessei a minha fome.
Deram-me um telescópio e mandaram-me descobrir deus:
Numa folha de papel, à escala do universo,
Desenhei ao centro um ponto demasiado perfeito.
Confiaram-me as notas da melodia do silêncio
E pediram-me uma canção de embalar para os seus filhos:
Por necessidade imperiosa de concentração
Os gritos abafaram a minha esperança de compreensão da noite.
Por vergonha não confessei a minha fome.
Deram-me um telescópio e mandaram-me descobrir deus:
Numa folha de papel, à escala do universo,
Desenhei ao centro um ponto demasiado perfeito.
Confiaram-me as notas da melodia do silêncio
E pediram-me uma canção de embalar para os seus filhos:
Por necessidade imperiosa de concentração
Os gritos abafaram a minha esperança de compreensão da noite.
Para aliviar as dores da tortura matinal
Acontecia no meu leito uma mulher pura
De quem rogavam que não expurgasse o pecado original.
Acontecia no meu leito uma mulher pura
De quem rogavam que não expurgasse o pecado original.
Com a mesa posta para a última-ceia
Ainda me deram uma caneta e pediram-me um novo livro sagrado
Mas aperceberam-se que, por falta de tempo, não me ensinaram a escrever.
Nada, portanto, a acrescentar ao que faltou por dizer.
Ainda me deram uma caneta e pediram-me um novo livro sagrado
Mas aperceberam-se que, por falta de tempo, não me ensinaram a escrever.
Nada, portanto, a acrescentar ao que faltou por dizer.
No anunciar do fim do tempo que me foi concedido
Declarei a culpa por todos os crimes impunes.
Com as minhas lágrimas brindaram copos de cristal da Flandres.
Presos todos os relógios de corda
Notificaram-me que o tempo do arrependimento tinha finado.
Porque ninguém pode morrer sozinho.
Prenderam-me ao punho uma espada sem misericórdia
E pediram-me a cabeça de todas as estátuas íntimas.
Declarei a culpa por todos os crimes impunes.
Com as minhas lágrimas brindaram copos de cristal da Flandres.
Presos todos os relógios de corda
Notificaram-me que o tempo do arrependimento tinha finado.
Porque ninguém pode morrer sozinho.
Prenderam-me ao punho uma espada sem misericórdia
E pediram-me a cabeça de todas as estátuas íntimas.
A caminho do cadafalso ainda comecei a história deste país faz de conta:
Era uma vez aqui um país…
Um catedrático da corte chegou com um planisfério em branco:
- Traça a rota para a terra prometida e não encontrarás a do inferno!
Olhei para trás e senti-me traído pela planta dos meus pés.
Era uma vez aqui um país…
Um catedrático da corte chegou com um planisfério em branco:
- Traça a rota para a terra prometida e não encontrarás a do inferno!
Olhei para trás e senti-me traído pela planta dos meus pés.
Por desespero pediram-me uma verdade real,
Que concentrasse todas as mentiras populares…
Então roubei a pureza a uma pedra de sal
E tornei sólido o meu mar interior.
Que concentrasse todas as mentiras populares…
Então roubei a pureza a uma pedra de sal
E tornei sólido o meu mar interior.
Espanta-se a multidão: - Hoje não há espectáculo!
Amanhã terei de me levantar bem cedo
Para assistir ao renascimento do mundo.
Para assistir ao renascimento do mundo.
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