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Hoje é o dia de proceder ao inventário das coisas fúteis: Reiteraram-se os órgãos cansados, os ossos quebrados, A pele viscosa reconhece as rugas espelhadas, O coração, vulgar e despreocupadamente cansado, Não vai além de um quarto de quilo. Do fígado sei as lânguidas bebedeiras, E dos pulmões a melancolia das madrugadas. Quando pensava largar o meu corpo à Ciência A defesa do consumidor alertou para a falta de qualidade da minha alma. Tinha para mim que a carne apesar de estar fora do prazo de validade Ainda daria para aguentar mais duas ou três revoluções Da ordem natural das coisas. Sinto um calor quase maternal: Começam pelos olhos de forma a eu não conseguir olhar para dentro. O coração é embalado e após o tempo de quarentena previsto por lei, Será o prato principal da mesa real. Debicam-me as entranhas em espasmos de degustação. Uma multidão sem preceitos suplica o meu bucho E nem os preconceitos das minhas tripas Adelgaçarão o apetite de nobres criaturas domé...

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