Um destes dias súbitos
Voltarei a cravar-te os incisivos,
A rasgar-te o peito ansioso,
E no alvorecer do coração
Preferirei dar a lamber-te
As primeiras feridas circunstanciais.
Da inveja de quem se mantém por morder
Nascerá o sentimento de culpa
Pelas noites de abandono.
Ao sacrificar-te no altar do meu corpo
Ainda não sou eu quem pertence
À fotografia em que não me convocas.
No completar de cada respiração
Guardo memória dos desertores:
Saltar de pedra em pedra para transpor
O rio do esquecimento é usurpar a culpa
Do inverno dos sobreviventes!
De olhos vendados visito o fim
Do mundo. E se de pé tenho o hábito
De fugir pelos crimes imputáveis
Não confessarei as ordinárias cinzas
Às raízes que me aprofundam.
De todas as formas o meu coração
Pertence à tua colecção de triângulos.
As larvas que se apoderarem do corpo,
Em letárgico estado de decomposição,
Explicarão a necessidade voraz
De justificar a minha longa espera.
Se me queres moribundo
Aguarda pela próxima vez
Em que eu seja profundo
Na forma de ignorar o mundo.
Após desfalecer e ressuscitar
No teu ventre, na congeminação do vómito,
Regurgitar-te-ei como quem confia
Que voltará para possuir-te na tua fome.
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