Acabei de descobrir que o Vaticano também tem a sua edição da revista
mais popular entre os homens que pretendem levar a vida direita. Perdoem-me o
excesso de linguagem, mas há palavras e expressões que se não as aproveitarmos
no momento ideal, um dia perdemos-lhes o sentido. Apraz-me dizer em minha
defesa que encontrei a Playboy do Vaticano por mero acaso… E o download só o
executei por curiosidade! Não que a pornografia me passe ao lado! Mal de mim se
o écran onde se representa a minha vida não tivesse o pequeno círculo no canto
superior direito! Para além de preferir filmes de terror, preciso da
pornografia para julgar despidas as pessoas que passam pelo meu mundo demasiado
vestido. Gosto das pessoas transparentes! Esta revista vaticanal nem me veio
parar às mãos fisicamente, senão ainda julgaria estar na posse de um objecto demoníaco.
Andava a fazer uma pesquisa ordinária, sobre batinas e hábitos, e deparei-me
com esta revista virtual.
Não quero resistir à tentação de a abrir! Como disse, como não é uma
revista física não me sinto tão pecador ao desfolhá-la. Espero encontrar no seu
interior, para além de irmãs despidas (claro está!), artigos de autoajuda aos
padres com a sexualidade retraída. Isto porque entre os principais compradores
desta revista devem estar os sacerdotes e a restante classe clerical. Imagino os arcebispos e os cardeais comprarem
às dúzias para apresentarem aos fiéis que dizem que a igreja tem de se evoluir
e se adaptar aos novos tempos. Mas para minha surpresa não encontro nada disto!
Nem um texto para penitenciar a biografia de quem se mostra como veio ao mundo.
Nem uma linha, como se quem compra a revista esteja cansado de ler! Possivelmente
é mesmo por isso, que todos nós sabemos que Deus ainda não se cansou de inspirar
os homens a escrever. Com tanta teologia não sobra tempo para compreender o mundo
que vem escrito nos restantes livros.
Das poucas vezes em que tive acesso a uma playboy, no auge da
adolescência, entusiasmei-me com os artigos que trazia. Claro que as imagens
eram o meu foco, mas uma excelente fotografia torna um texto sempre bom! As fotos
que esta revista traz podiam ser as de uma qualquer revista para adultos. Nem consigo
identificar a ordem religiosa a que pertencem as raparigas. Prossigo nas páginas
com a esperança de ser surpreendido a qualquer momento. “ - Que bem ficava um
terço nas mãos desta mulher…. E esta toda nua com um com um crucifixo ao
pescoço ficava fantástica! Ao menos colocassem uma bíblia no regaço desta para
mostrar que está ao serviço de Deus”. Nada! Como se as fotografias tanto
pudessem ter sido fabricadas no céu como no inferno. Continuo na minha viagem
pela revista com a ansiedade de nas páginas centrais encontrar talvez uma santa,
daquelas vivas que as pessoas visitam em desespero, uma daquelas que não comem
há anos mas que parecem que acabaram de tomar o pequeno-almoço.. Quero ver se
ela está magra a ponto de abalar a minha descrença. Mas não encontro nenhuma
santa! Pelo menos não ostenta nenhuma auréola sobre a cabeça. E nisto eu sou como
São Tomé: ver para crer! Aquela rapariga parece-me uma pecadora como qualquer outra!
E não me parece que passe fome! A rapariga está exaustivamente despida! Os leitores
gostam de ler o que está nas entrelinhas, e nestas páginas não há espaço de
manobra para fazer efabulações. Fecho a
revista desiludido! Não me sinto tentado a comprar o próximo número… Mas também
não é caso para chamar o Gregório que estas raparigas não são de deitar fora! Por
agora a revista não vai parar à reciclagem!
Hugh Hefner, lá do sítio quente onde está, deve estar desiludido: a
Playboy do Vaticano tinha tudo para ser bem-sucedida! Era tão fácil tornar esta
revista mais atractiva! Não sei se as vendas iam disparar, mas as raparigas,
que continuo a acreditar que estão ao serviço de Deus (embora não saiba bem
qual), iriam ser vistas com outros olhos pelos compradores. Assim são banais
pecadoras, como todas as que se despem, a troco de dinheiro, para os homens
levarem a vida direita. Imagino o pai de uma dessas raparigas (o pai cá de
baixo que o de lá de cima já está demasiado velho para estas revistas fazerem
milagres!), choroso por a sua filha ter ingressado num convento, ao ver a sua
filha nesta revista dizer: “- Que bonita que está a minha filha!” Não se importando
de a sua filha ter mudado de filiação paterna... Nesta revista a sua filha é igual
a qualquer uma outra despida... É a cruz que dá significado ao Cristo de braços
abertos! E todas estas raparigas escondem a sua cruz. Se não há inspiração para
mais peçam conselhos à Redacção da Playboy do Inferno! Falem com o próprio
Satanás que ele é bom a calcular o melhor ângulo nas fotos!
Não sei se com esta revista o Vaticano pretende atrair mais fiéis, ou simplesmente
mostrar que não é uma instituição parada no tempo... E o que virá a seguir? Deixo
aqui a sugestão: um calendário com as “melhores” cidadãs do Estado do Vaticano.
Nem precisam de ser freiras! Coloco “melhores” entre aspas porque o significado
é o que o leitor lhe queira dar! Com tantas festas religiosas é preciso tornar
o calendário gregoriano mais atraente senão qualquer dia todos os dias são santos!
E já há tão poucos dias civis para pecar!
Portanto, a minha sugestão de leitura para o fim de semana, para homens
sozinhos em casa, não é a Playboy do Vaticano. De um escritor anónimo recomendo
“A Filha de Fanny Hill. A sua leitura é entusiasmante! Garanto que tem mais poder
do que uma Playboy abençoada! Ou, se se preferir, isto se não houverem Playboys
arrecadadas no sótão, pegue-se num bom filme de terror para perder medo pela
vida!
Nota: Não deixem de reparar no olhar diabólico da rapariga!
António Miguel Ferreira


Comentários
Enviar um comentário