Por esta porta entra o condenado que apenas deseja que lhe aliviem as últimas dores… Entra também aquele que se sair sem conseguir receber explicação para os seus sintomas, prometerá voltar em pior estado de saúde (Ontem, já o informaram que há dores que não se explicam… Apenas se sentem!) Por esta porta entra o turista, vítima de uma das armadilhas da cidade, e entra o imigrante a que apetece colocar um adesivo na boca de tantas vezes que já fez questão de referir que lá fora, no país para onde foi ganhar o seu pão, é que as coisas funcionam bem. Por esta porta entra a velhinha, já sem forças para respirar, que apenas chama pela mãe…. E entra o rapaz que empregou toda a sua força na bola, como se estivesse a disputar o jogo da sua vida. Por esta porta entra o homem de negócios, com a vida arruinada, apresentou a corda ao pescoço… Como não aprendeu a fazer nós para segurar a sua vida, mereceu desta mais uma oportunidade… Entra também o pobre-diabo que sem já nada a perder sabe que os castigos que o corpo recebe são a consequência natural de se ter nascido sem sorte. Por esta porta entram homens e mulheres de boa vontade, e há mesmo aqueles que entram contra a sua vontade. Aqui, não raras vezes, curam-se mesmo os que não querem ser curados.
E depois há aqueles que apenas procuram refúgio. Esses são os únicos que não têm pressa para a cura das suas dores. Também não são dores que sejam para aqui serem saradas!
Mas nem todos os que aqui entram saem com a garantia de vida prolongada. Alguns saem com a certeza de que pouco há mais a fazer! Que quando hoje decidiram entrar por esta porta já vieram tarde. A dor existe para darmos ouvidos ao nosso interior!
Todos pedem por uma pulseira de uma cor mais urgente! Como se precisassem de uma doença pior para justiçarem o facto de aqui estarem… “- O médico esqueceu-se de mim?...” “- Se duas horas é demasiado tempo para o resultado das análises chegarem talvez seja melhor recalcular as prioridades da sua vida!”
E há aqueles que entram e não saem por esta porta. Mesmo que este hospital tivesse a capacidade ilimitada de atendimento do céu ou do inferno não se salvariam mais vidas. Aqui não se praticam milagres nem se dogmatizam as mãos que abafam a dor. Aqui a ciência, a medicina, de mãos dadas com a coragem e a experiência, aproveitam-se do facto de deus ou o diabo estarem distraídos para desafiarem o destino. Os que têm pressa em viverem a vida que deixam fora destas portas não vêm aqui fazer nada! Se basta um cobertor para agasalhar a dor, ou se umas bolachas resolvem o apetite das horas mortas, não se especule porque os ponteiros não dão frutos. Os relógios das pessoas que aqui trabalham estão sempre acelerados! “- Se tem muita pressa levante-se e apresente as condolências àquela mulher que acabou de perder o filho! Se não tem por hábito dar os sentimentos a estranhos esta é uma boa altura para começar! Sabe que as pessoas que aqui trabalham, todos os dias, interiormente dão os sentimentos a pessoas que estão a ver pela primeira vez!?” Ao fazer-se silêncio a nossa vida pára por breves instantes…
Esta porta é a de uma prisão! Em forma de labirinto… E para se encontrar uma saída para a vida não se deveria entrar num labirinto assim! Mas não é uma prisão apenas para os doentes, muitas das vezes inocentes pelos crimes que o corpo sustenta… Também é o cárcere de todos os que aqui trabalham. Mas nós não somos guardas prisionais… Nem aqui os médicos são juízes que condenam ou mandam em liberdade... Todos nós somos também prisioneiros. E condenados a uma pena perpétua, que quando saímos daqui, para recuperarmos as nossas vidas pessoais, muitas vezes levamos as grades que nos reconhecem. Quando encontramos a saída ao fim de mais um turno somos como que condenados, chegados ao fim do corredor, que têm à sua espera para lá da porta uma cadeira eléctrica para descansarem.
Se para todos vós a porta de entrada também é a de saída, para nós é a fronteira para o mundo possível. Aqui dentro praticamos o impossível com os recursos de que dispomos.
Nós que cá continuamos, apenas vos pedimos que ao saírem pela porta por onde entraram, se lembrem que continuamos cá para servirmos quem se cruza convosco na porta de saída.
Um Feliz Natal, com saúde para todos, e se precisarem de nós continuamos aqui de portas abertas!
E depois há aqueles que apenas procuram refúgio. Esses são os únicos que não têm pressa para a cura das suas dores. Também não são dores que sejam para aqui serem saradas!
Mas nem todos os que aqui entram saem com a garantia de vida prolongada. Alguns saem com a certeza de que pouco há mais a fazer! Que quando hoje decidiram entrar por esta porta já vieram tarde. A dor existe para darmos ouvidos ao nosso interior!
Todos pedem por uma pulseira de uma cor mais urgente! Como se precisassem de uma doença pior para justiçarem o facto de aqui estarem… “- O médico esqueceu-se de mim?...” “- Se duas horas é demasiado tempo para o resultado das análises chegarem talvez seja melhor recalcular as prioridades da sua vida!”
E há aqueles que entram e não saem por esta porta. Mesmo que este hospital tivesse a capacidade ilimitada de atendimento do céu ou do inferno não se salvariam mais vidas. Aqui não se praticam milagres nem se dogmatizam as mãos que abafam a dor. Aqui a ciência, a medicina, de mãos dadas com a coragem e a experiência, aproveitam-se do facto de deus ou o diabo estarem distraídos para desafiarem o destino. Os que têm pressa em viverem a vida que deixam fora destas portas não vêm aqui fazer nada! Se basta um cobertor para agasalhar a dor, ou se umas bolachas resolvem o apetite das horas mortas, não se especule porque os ponteiros não dão frutos. Os relógios das pessoas que aqui trabalham estão sempre acelerados! “- Se tem muita pressa levante-se e apresente as condolências àquela mulher que acabou de perder o filho! Se não tem por hábito dar os sentimentos a estranhos esta é uma boa altura para começar! Sabe que as pessoas que aqui trabalham, todos os dias, interiormente dão os sentimentos a pessoas que estão a ver pela primeira vez!?” Ao fazer-se silêncio a nossa vida pára por breves instantes…
Esta porta é a de uma prisão! Em forma de labirinto… E para se encontrar uma saída para a vida não se deveria entrar num labirinto assim! Mas não é uma prisão apenas para os doentes, muitas das vezes inocentes pelos crimes que o corpo sustenta… Também é o cárcere de todos os que aqui trabalham. Mas nós não somos guardas prisionais… Nem aqui os médicos são juízes que condenam ou mandam em liberdade... Todos nós somos também prisioneiros. E condenados a uma pena perpétua, que quando saímos daqui, para recuperarmos as nossas vidas pessoais, muitas vezes levamos as grades que nos reconhecem. Quando encontramos a saída ao fim de mais um turno somos como que condenados, chegados ao fim do corredor, que têm à sua espera para lá da porta uma cadeira eléctrica para descansarem.
Se para todos vós a porta de entrada também é a de saída, para nós é a fronteira para o mundo possível. Aqui dentro praticamos o impossível com os recursos de que dispomos.
Nós que cá continuamos, apenas vos pedimos que ao saírem pela porta por onde entraram, se lembrem que continuamos cá para servirmos quem se cruza convosco na porta de saída.
Um Feliz Natal, com saúde para todos, e se precisarem de nós continuamos aqui de portas abertas!
António Miguel Ferreira, Assistente Operacional, Natal 2019.

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